Quem (não) Tramou Roger Rabitt?

A melhor descrição que posso fazer da Elsa é dizer que ela era igualzinha à Jessica Rabbit.
Com as mesmas curvas estonteantes, ligeiramente ruiva, uns olhos atrevidos, uns lábios de deixar qualquer um maluco e eu não fui excepção.Conhecia-a no liceu aí pelo 10º, 11º onde ela era a “boazona-que-namorava-com-um–gajo-bonitinho–mas-burro-como-uma-porta”. Para além disso, ela estava noutra turma. Apesar de termos um amigo comum, este já não frequentava aquela escola, o que, inicialmente, não deu para passar das primeiras apresentações e do “Olá!” quando nos cruzávamos no pátio, durante os intervalos.
O que melhorou a situação foram umas festas de fim de período que o pessoal resolveu fazer, com espectáculo à tarde e discoteca à noite.
Como a iniciativa partiu da minha turma, entrei na organização. ( e também no dito espectáculo onde fiz um convincente Simon leBon dos Duran Duran. Só me faltava o iate, mas isso não interessa!) Ela também, o que deu a possibilidade de estarmos mais tempo juntos, apesar do matulão não desamparar a loja. (Pudera...) Mas entre ensaios à noite e reuniões depois das aulas, lá foi dando para lhe atirar com o meu charme de “intelectual-cool-e-divertido”. No fundo tentava ser o que o outro não era. A diferenciação de produtos é muito importante, não só em marketing.
Foi assim que ficámos amigos. Encontrávamo-nos nos corredores entre duas aulas, brincávamos um bocado e dava-me um gozo tremendo fazê-la rir ou pensar com uma única frase e com o matulão ali a ver.~
Era como se ele SÓ tivesse o corpo dela, mas eu tinha a alma, ou pelo menos conseguia tocar-lhe.
Passado dois anos, mudei de liceu e apesar de trocarmos números de telefone e moradas (posso ser tímido, mas não sou parvo!) e de ainda termos saído com alguma frequência, (para observar a caça e ver se já era boa altura de atacar) inevitavelmente acabámos por nos perder de vista.
Numa noite de Stº António, passados 5 ou 6 anos, estava eu furioso a voltar para casa depois de descobrir que um arraial afinal já não se ia realizar, quando, ali no Marquês de Pombal, oiço chamar o meu nome.Era ela...Estava ali à espera de uns amigos (que felizmente vinham em casal... ) e depois iam andar por aí, como se anda pelas noites de Stº António.
Descemos a Avenida que nessa altura ainda estava transitável, aproveitando para meter a conversa em dia. Reparei que tinha uns sapatos vermelhos, de salto alto, o que me chamou a atenção porque na altura as minhas (poucas... demasiado poucas...) companhias femininas eram mais do estilo “tenis-ganga-e-tshirt-benetton” Mas gostei do andar que os sapatos lhe davam e disse-lhe. Ela sorriu, pegou-me na mão e guiou-me pela multidão enquanto nos dirigíamos para Alfama.
Umas horas depois e já mais reconfortados depois de uns chouriços assados e caldos verdes, rumamos à faculdade de psicologia, ali para os lados do Poço do Bispo, onde um dos casais amigo dela, estudava. Na noite, já havia aquele misto de cheiros, luzes sombras e movimento típicos das noites de Sto António. Acho que andamos sempre de mão dada, num jogo de sedução que ambos sabíamos que estávamos a jogar. Passamos a noite a dançar no terraço da faculdade. Eu, o choninhas do liceu a dançar agarradinho com a boazona! UAU! I’m king of the world! Rimos como nunca rimos, descobrimo-nos como se fosse a primeira vez que falávamos (e se calhar era...) e acabamos a noite a ver o nascer do sol, cansados e felizes, no Jardim de São Pedro de Alcântara.
Ela sentada ao meu colo, os outros empoleirados no banco do jardim, todos em silêncio, a ver a primeira luz púrpura do sol a transformar-se em dourada, escorrendo pelos telhados.Nessa noite, ou melhor manhã, não aconteceu mais nada.
Se depois aconteceu ou não, é uma coisa que deixo à vossa imaginação. O importante desse Stº António é que o patinho feio foi beijado pela princesa e transformou-se em cisne.
7 Comments:
Olha... vou-me repetir!!
Fizeste-me viajar, outra vez! :))
As divagações pela noite de Sto António... calcorrear Lisboa pela madrugada, conversando, rindo... e acabar a noite nos jardins (neste caso lembro-me que foi o de belém, frente aos Jerónimos, a piscar o olho aos pastéis de belém)... sentir o nascer do sol, na semi-obscuridade após desligarem a iluminação pública :)
Sentir, viver... e aquilo ficar-nos marcado na memória para sempre!
Os cheiros, pedaços de imagens, sentimentos...
:)
Ai ai.... ;)
Beijos
bolas...agora só para o ano...devias ter escrito este post antes de junho a deixar a dica...
:)
*beijoes*
Gosto quando o cisne deixa a pena do patinho feio...
Beijo
simplesmente adorei.
De facto os tempos de liceu, foram simplesmente fantasticos!
beijo
A meio do texto fui umas 20 vezes ver o teu profile a ver se nao eras mesmo tu... mas definitivamente nao... que pena :(
Não? Não sou eu mesmo? De ceteza? Posso ter sido...
nao, nao podes ser :) eheheh... bjocas
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