DA BESTE OF

Este blog é um "Best Of" do que foi publicado originalmente no Citizen Zuko. (www.citizenzuko.bogs.sapo.pt)

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domingo, dezembro 31, 2006

Patricia

Ela era loura e tinha uns olhos em amêndoa, que lhe dava um ar selvagem.

Ela andava noutra turma e já nem me lembro como é que reparei nela... Rebuscando nas memórias acho que é capaz de ter sido no refeitório. Também uma pessoa com 12 anos ainda não sabe reter aquilo que vai ser importante. Eu estava no 2º ano da Preparatória e estava muito bem!

Pela primeira vez gostava de ir à escola, que era um sitio arejado, amplo, moderno e não aquele edifício escuro e labiríntico, quase Hogwarthiano, que era a Voz do Operário.

A Eugênio dos Santos era completamente diferente! Foi aí que tive os meus primeiros amigos, daqueles que nos escolhem para os trabalhos de grupo, mesmo quando nós ficamos, de propósito, quietinhos no nosso canto. Daqueles que nos convidam para as festas de anos (mas não iam às minhas... Fazer anos em Agosto é lixado!) Daqueles que nós, na nossa ingenuidade de 12 anos, acreditamos de vamos ter para toda a vida.

Também foi aqui que comecei a conviver com raparigas. Até então tinha feito toda a primária em turmas só de rapazes (Obrigado, Estado Novo!...) Na Preparatória descobri que havia outras raparigas para além da vizinha do lado ou da ocasional irmã do pessoal lá da rua.

A minha primeira impressão é que elas tinham uma letra esquisita, assim redondinha e muito certinha e todas tinham a mesma letra que escreviam nos mesmo cadernos cor-de-rosa ou às florzinhas. Para além disso gritavam muito, eram aplicadas nas aulas e não jogavam à bola, apesar de andarem em bando como nós.

Mas eram giras...

Eram tremendamente giras com aqueles cabelos compridos e uns olhos completamente diferentes dos nossos.

Como os da Patrícia... A Patrícia... Passei o ano lectivo todo a adorá-la de longe. Nunca lhe falei, apesar de o ter podido fazer em duas ou três ocasiões.

Descobri-lhe o nome através de um colega que tinha um amigo na turma dela, mas nem mesmo assim arranjei coragem para lhe falar. E se a tivesse diria o quê? Por isso limitava-me a adorá-la de longe.

A dada altura a coisa passou a ser tão óbvia que já a escola toda sabia e ela passou a olhar para mim. Ás vezes ria-se ou sorria, o que me fazia disparar o coração a mil à hora, como quando eu ia apanhar uma bola que tinha ido parar (nem sempre por acaso...) mais ao pé dela.

No último dia de aulas, ao sair do portão, um amigo disse-me:
- Agora nunca mais a vês...
- Pois não! – disse eu sem olhar para trás.

Passados dez, talvez doze anos estava eu a passear no calçadão da Costa da Caparica, no meio da multidão que ia ou vinha da praia e vejo-a. Apesar do tempo passado, reconheci-a imediatamente e novamente o meu coração disparou. Um minuto depois ela já tinha desaparecido. Paralisado, também não lhe disse nada.

Foi nesse dia que aprendi que, apesar do tempo não voltar para trás, a vida dá-nos sempre uma segunda oportunidade. Se a agarramos ou não, já é outra coisa.

(Publicado em Junho de 2006)

quinta-feira, setembro 28, 2006

Herbie

Nunca gostei de carros!

Aquela coisa de gajo, de ler revistas de carros, de falar dos cavalos que a máquina dele tem, de comentar os tempos do vencedor do Rali da Patagónia, nunca foi comigo. Para mim, um carro era uma caixa com rodas e um motor, que serve para andar de um lado para o outro.

Eu gosto mesmo é de aviões (e pronto! Agora já está toda a gente a pensar: “Pois, pois...O que tu queres sei eu!” Mas estou mesmo a referir-me a aviões, a jactos aerodinâmicos, rápidos, manobráveis, que nos dão com uns G potentes que um gajo até desmaia. Aviões mesmo!)

Acho que a razão pelo meu desinteresse por carros tem a ver com o facto de só há 7 ou 8 anos é que conduzo e só há dois anos é que tenho uma viatura para meu uso. Com efeito, na época em que se anda muito de carro à noite e aos fins de semana, tive a felicidade de poder sempre contar com boas condutoras, o que para alem de útil tem sempre aquele toque erótico de “leva-me para onde quiseres”.

Mas agora gosto mesmo do meu carro!

Foi comprado ás pressas, numa altura que vim trabalhar para um sitio sem transportes, e sem olhar para a marca, o que lhe confere maior carga emocional, já que não sendo escolhido, foi obra do destino ter chegado ás minhas mãos.

Eu sempre tive a mania de ser diferente. Acredito que é uma forma criativa de sermos nós próprios, uma manifestação do EU no seio da multidão. Há quem chame a isto vaidade ou a mania das grandezas e estão certos! Eu é que gosto de embelezar as coisas. Mania de ser diferente. Por isso quando pensava num carro, teria de ser algo diferente, como um Morgan em madeira ou uma Harley (eu sei que uma Harley não é um carro, mas não interessa. You got the point!) porque uma Haley é uma Harley e Ferraris á muitos, seu palerma!

Por isso, foi com algum agrado que ao fim de alguns dias a andar por ai com o meu Pujante Bogas, reparo que toda a gente olha para ele. Humm... Nice! É que efectivamente o raio do carro é mesmo raro! Eu só vi mais dois iguais em 2 anos. É que é mesmo mais raro que um Ferrari!

Como se isso não bastasse o raio do Bogas, anda maravilhosamente bem! Quer dizer.. sem passageiros, claro... Não raras vezes já tive o prazer de deixar para trás BMW e Audis que julgavam que lá por ser pequenino não era Pujante!

Ora isto tudo lembra-me uma festa que dei á muitos anos para os meus colegas de curso, em casa dos meus pais, aproveitando eles estarem de férias. É que tinha uma parede descascada na sala de jantar e com o estuque a ver-se. (Casas antigas do centro de Lisboa...) Impossível de disfarçar, por isso apontei-lhe uma luz colorida vinda de baixo, que acentuou os relevos e deu-lhe um ar de “instalação decadente”, típica dos anos 80.

O que por sua vez me faz lembrar esse grande senhor da televisão, o ALF. Este extraterrestre, comilão e “bon vivant”, costumava dizer:

- I’m doing the best of a worst situation.

E ele tinha razão...

quinta-feira, agosto 24, 2006

Quem (não) Tramou Roger Rabitt?



A melhor descrição que posso fazer da Elsa é dizer que ela era igualzinha à Jessica Rabbit.

Com as mesmas curvas estonteantes, ligeiramente ruiva, uns olhos atrevidos, uns lábios de deixar qualquer um maluco e eu não fui excepção.Conhecia-a no liceu aí pelo 10º, 11º onde ela era a “boazona-que-namorava-com-um–gajo-bonitinho–mas-burro-como-uma-porta”. Para além disso, ela estava noutra turma. Apesar de termos um amigo comum, este já não frequentava aquela escola, o que, inicialmente, não deu para passar das primeiras apresentações e do “Olá!” quando nos cruzávamos no pátio, durante os intervalos.

O que melhorou a situação foram umas festas de fim de período que o pessoal resolveu fazer, com espectáculo à tarde e discoteca à noite.

Como a iniciativa partiu da minha turma, entrei na organização. ( e também no dito espectáculo onde fiz um convincente Simon leBon dos Duran Duran. Só me faltava o iate, mas isso não interessa!) Ela também, o que deu a possibilidade de estarmos mais tempo juntos, apesar do matulão não desamparar a loja. (Pudera...) Mas entre ensaios à noite e reuniões depois das aulas, lá foi dando para lhe atirar com o meu charme de “intelectual-cool-e-divertido”. No fundo tentava ser o que o outro não era. A diferenciação de produtos é muito importante, não só em marketing.

Foi assim que ficámos amigos. Encontrávamo-nos nos corredores entre duas aulas, brincávamos um bocado e dava-me um gozo tremendo fazê-la rir ou pensar com uma única frase e com o matulão ali a ver.~

Era como se ele SÓ tivesse o corpo dela, mas eu tinha a alma, ou pelo menos conseguia tocar-lhe.

Passado dois anos, mudei de liceu e apesar de trocarmos números de telefone e moradas (posso ser tímido, mas não sou parvo!) e de ainda termos saído com alguma frequência, (para observar a caça e ver se já era boa altura de atacar) inevitavelmente acabámos por nos perder de vista.

Numa noite de Stº António, passados 5 ou 6 anos, estava eu furioso a voltar para casa depois de descobrir que um arraial afinal já não se ia realizar, quando, ali no Marquês de Pombal, oiço chamar o meu nome.Era ela...Estava ali à espera de uns amigos (que felizmente vinham em casal... ) e depois iam andar por aí, como se anda pelas noites de Stº António.

Descemos a Avenida que nessa altura ainda estava transitável, aproveitando para meter a conversa em dia. Reparei que tinha uns sapatos vermelhos, de salto alto, o que me chamou a atenção porque na altura as minhas (poucas... demasiado poucas...) companhias femininas eram mais do estilo “tenis-ganga-e-tshirt-benetton” Mas gostei do andar que os sapatos lhe davam e disse-lhe. Ela sorriu, pegou-me na mão e guiou-me pela multidão enquanto nos dirigíamos para Alfama.

Umas horas depois e já mais reconfortados depois de uns chouriços assados e caldos verdes, rumamos à faculdade de psicologia, ali para os lados do Poço do Bispo, onde um dos casais amigo dela, estudava. Na noite, já havia aquele misto de cheiros, luzes sombras e movimento típicos das noites de Sto António. Acho que andamos sempre de mão dada, num jogo de sedução que ambos sabíamos que estávamos a jogar. Passamos a noite a dançar no terraço da faculdade. Eu, o choninhas do liceu a dançar agarradinho com a boazona! UAU! I’m king of the world! Rimos como nunca rimos, descobrimo-nos como se fosse a primeira vez que falávamos (e se calhar era...) e acabamos a noite a ver o nascer do sol, cansados e felizes, no Jardim de São Pedro de Alcântara.

Ela sentada ao meu colo, os outros empoleirados no banco do jardim, todos em silêncio, a ver a primeira luz púrpura do sol a transformar-se em dourada, escorrendo pelos telhados.Nessa noite, ou melhor manhã, não aconteceu mais nada.

Se depois aconteceu ou não, é uma coisa que deixo à vossa imaginação. O importante desse Stº António é que o patinho feio foi beijado pela princesa e transformou-se em cisne.

quinta-feira, julho 06, 2006

Boas na Cama


Antes:
Gosto dos olhos que prometem tanto, dos gestos falsamente inocentes, dos sinais que são feitos discretamente, dos primeiros toques, do reflexo quente de uma vela a saltitar no rosto, do cabelo com que se brinca, dos brincos que se tiram, dos sapatos que se descalçam à entrada, dum vestido que escorrega, parando brevemente nas curvas...

Gosto da antecipação.

Gosto da inteligência da sedução.

Gosto muito do riso. E de uma cara bonita. Mas principalmente de uns olhos que digam muito e prometam mais...

Gosto principalmente daquele momento suspenso no tempo em que ambos sabemos que queremos, mas fingimos que nada se passa ou que ainda não podemos

Durante:
Gosto que tenha iniciativa, que não tenha vergonha, que me seja igual e não submissa.

Gosto de sentir as mãos dela como borboletas ou garras.

Gosto que beije.

Gosto que lamba.

Gosto que brinque.

Gosto que fale, que gema, que grite.

Gosto que me faça suar,
Quente e frio...

Gosto que veja e se deixe ver.

Gosto que invente, que voe, que ouse.

Gosto que se entregue e que me tome,
Sem medo, sem pudores, sem limites,
Com tesão, com doçura, com ela.

Gosto que me esgote.

Gosto que me obrigue a ir mais longe.

Gosto que me seque.

Gosto tenha gosto
E sabor...

Depois:
Gosto que me abrace.

Gosto que me aninhe.

E...
Gosto que recomece...

Filosofia de cordel
Existem mulheres "más" na cama? Sinceramente não sei...

Posso ter tido sorte, mas nunca encontrei nenhuma que pudesse dizer que era "má". Poderão haver mulheres tímidas, por feitio ou por ocasião. Poderão haver mulheres contrariadas... Mas "más"? Há mulheres mais imaginativas ou mais dinâmicas na cama que outras, é verdade. Mas isso não dependerá da relação ou do ambiente existente entre os dois? E nesse caso não serão TAMBEM os homens responsáveis por uma mulher ser "boa" ou "má"?

Se calhar quem tem razão era uma colega de curso que dizia: "Não há mulheres frigidas. Há é más línguas..."

Gostei muito de todas as mulheres com que fui para a cama e cada uma delas, sendo todas diferentes, foram "boas". Lembro-me de todas, não como trofeus num cinto de caça, mas com a ternura que se sente em relação a quem um dia foi importante para nós. Se calhar por nunca as ter visto nem tratado como "mais uma", é que elas foram "boas" comigo…

Por isso só posso dar razão ao Prince quando ele diz:

Kiss, by Prince
Uh!U don't have 2 be beautiful 2 turn me on
I just need your body, baby, from dusk till dawn
U don't need experience 2 turn me out
U just leave it all up 2 me,
I'm gonna show
U what it's all about

U don't have 2 be rich 2 be my girl
U don't have 2 be cool 2 rule my world
Ain't no particular sign
I'm more compatible with
I just want your extra time and your . . . . . kiss

U got 2 not talk dirty, baby, if U wanna impress me
U can't be 2 flirty, mama, I know how 2 undress me (Yeah)
I want 2 be your fantasy, maybe U could be mine
U just leave it all up 2 me, we could have a good time

Yes, ohI think I wanna dance, uh
Gotta, gotta, oh
Little Girl Wendy's ParadeGotta, gotta, gotta

Women, not girls, rule my world,
I said they rule my world
Act your age, mama, not your shoe size,
maybe we could do the twirl
U don't have 2 watch Dynasty 2 have an attitude, uh
U just leave it all up 2 me, my love will be your food (Yeah)

U don't have 2 be rich 2 be my girl
U don't have 2 be cool 2 rule my world
Ain't no particular sign I'm compatible with!
I just want your extra time and your...

Kiss

quinta-feira, junho 29, 2006

O Patriota

Eu acho que Portugal devia ser governado por estrangeiros!

Reparem no seguinte: O Governo acaba de lançar um pacote de medidas destinadas a matar o “monstro” do déficit, parecido ao que há 3 anos foi adoptado – pelo menos no que concerne ao IVA - mas não funcionou. E porque é que não funcionou? Porque estamos em Portugal, onde nada funciona! Temos um orçamento para Educação igual ao Francês e mesmo assim o pessoal continua sem saber nada, para não falar em milhares de Comissões de Estudo e Institutos que são criados e subsidiados, mas nunca são dissolvidos. Alias, como somos um povo de brandos costumes e paninhos quentes, uma Comissão é a melhor maneira de não se ter de tomar decisões. Agora foram aumentados os meios para o combate aos incêndios mas, alguém tem dúvidas que este país só não vai arder todo, porque já ardeu em anos anteriores?
Há que admití-lo. Nós temos um grave problema em obter resultados.

Só conseguimos resultados se for um estrangeiro a marcar os objectivos. Geneticamente os portugueses estão programados para responder positivamente a todo o que for estrangeiro, sejam turistas ou sapatos.

Se o Benfica foi a Itália buscar o Trapatonni, porque é que nós estamos limitados a ter um primeiro ministro português? Porque é que não podemos ir à Finlândia contratar um governo, ou mesmo só um ministro? Da mesma maneira como há olheiros para o futebol podia haver para o Governo. Manda-se um olheiro à Lituânia onde um Secretário de Estado da Cultura está a fazer furor e contratava-se o tipo! Se isto agora é tudo Europa, se até temos televisão por cabo e já não existem passaportes porque é que havemos de estar limitados aos políticos nascidos em Portugal?

Por causa da Independência Nacional? Oh meus lindos, onde ela já vai.. Aliás, o grande estratagema dos Filipes foi deixar-nos acreditar que éramos independentes, para nos poderem usar como moeda de troca com as potências estrangeiras. E a ocupação inglesa, depois das guerras Napoleonicas? Se formos ver bem ainda não acabou... Por isso Portugal como nação independente é uma ilusão já há várias centenas de anos e não é isso que nos impede de ler Fernando Pessoa e assar sardinhas.

Para dizer a verdade este país só funcionou na Idade Media, quando eram todos broncos e ainda não havia cheques. Depois, com a primeira fase da Globalização (a que nós chamamos Descobrimentos) as coisas começaram a ficar muito complicadas, muito grandes, e já se sabe, Portugal é um país pequeno com gente pequena e perdemo-nos com aquilo tudo.

Contratar um tipo lá fora para mandar em tudo, até nem era uma novidade cá no burgo. Na Guerra da Restauração contratàmos um francês com nome alemão (devia ser para ser mais internacional) para comandar o Exèrcito e nas guerras napoleònicas a Corte foi para o Brasil e deixou cá um general inglês.

Naturalmente que um Primeiro-Ministro estrangeiro vinha com os boys dele, m as isso para nós não é novidade. Aliás até é capaz de ser melhor... É que ele traria boys para os jobs existentes, quando a moda cá é inventar jobs para os boys.

É que eu sou um patriota e gostava de ver se conseguíamos cá estar mais 800 anos...

(Publicado inicialmente em Maio de 2005)

terça-feira, junho 20, 2006

As 3 Furias - 4º Parte














Primeira parte: http://missluxuria.blogs.sapo.pt/2005/04/ "Hoje convidei a Cicuta"

Segunda parte: Estava no Cicuta com Mel, mas perdeu-se

Terceira parte: http://lasmanitas.blogspot.com/2005_04_01_lasmanitas_archive.html "Aceitei o convite da Cicuta"

E esta é a quarta parte...
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- Mas tu aviaste as três gajas? – Perguntou o Caruja.
- À força toda! Aquilo foi até cheirar a alho! – Pedro cuspiu a casca de um tremoço e beberricou da imperial para deixar o Caruja assentar as ideias.
Os dois não tinham nada a haver, tirando o facto de morarem no mesmo prédio, se podemos chamar prédio a um edifício dos anos 20 a cair aos bocados. Pedro morava nas águas furtadas e tinha pinta e corpo de galã de filme, Caruja era enfezado para a idade. A mãe, porteira, nunca deixou de beber, nem na gravidez.
O Caruja ainda ria quando o ruído mais alto de um autocarro que passava, provocado pelo abrir da porta da cervejaria, atraiu a sua atenção.
-…Pessoal…. – João cumprimentou os dois e sentou-se. Os óculos faziam dele o intelectual do grupo, mas calças brancas e camisa indiana, diziam que não queria esse rótulo. Estavam todos bronzeados. Tinham todos 20 anos. Era verão e era noite.
- Então? Amanhã vamos à praia? – perguntou o João
- Pá… Este gajo aviou três malucas, foda-se!
- Como é que é? “Sô” Mendes! Era uma Imperial…
Pedro olhou para o balcão e pegou no copo, mostrando uma cicatriz no pulso que não passou despercebida a João.
- Três gajas! Meu, foda-se, é a puta da loucura!
- Conta lá isso… Obrigado “Sô” Mendes…
Pedro virou-se. Já tinha assistência. Já podia contar…
-‘Tás a ver o Piri ? Aquele do 36?...
- Sim ...
- O gajo casou-se e na despedida de solteiro levámo-lo a um strip... Assim na brincadeira! Foi aí que engatei as duas gajas...
- ‘Pera lá, foda-se! Eram duas ou três? – Caruja já não percebia nada.
- Primeiro foram duas. Gajas boas, tás a ver? Estavam ali perdidas no bar, ainda pensei que fossem fufas, mas não, meu... Aqui o je chegou-se a elas e tunga! Aproveitei quando elas levantaram os copos a pedir mais e eu, aqui com o meu corpinho, fui até lá!
- Este gajo não existe!...
- E depois, foda-se?
- Bem... depois, falinhas mansas para aqui, um toque para ali e tava feito! Tinha as duas pelo beicinho!
Agarradinhas, meu! - Com o entusiasmo Pedro mexeu-se e uma cicatriz recente num sitio inconfessável
abriu-se, o que lhe provocou um ligeiro esgar...
- O que é que foi? – perguntou João
- Nada! Foi do futebol... – Disfarçou Pedro. Mal.
- E depois? Papaste as gajas ali, foda-se?
- Não meu! Este puto é mesmo bronco! Saímos dali e fomos para um motel.
- Mas já tinhas reservado?... – João sempre atento ao pormenores...
- Liguei para lá e marquei!
- Ganda sorte! Costuma estar sempre cheio...
- Pá isso não sei! O certo é que fomos para lá! E as gajas passaram-se quando viram aquilo! Cama redonda, espelhos, “jacuze”, vibradores...
- Foda-se! Este gajo tem uma sorte!...
- O motel já tinha vibradores? – Um tremoço parou a meio caminho entre o pires e a boca de João.
- Não! Caralho! Era de uma delas! Da baixinha! E tambem tinha uma chibata...
- Então?... Mas espera lá... Mas se elas levavam isso tudo é porque estavam no engate...
- Pá deixa essas merdas, foda-se! Deixa o gajo continuar!
- Obrigado! Bem, começo assim a despir as gajas, que estavam um bocado tímidas... E vai dai, aqui o
meu vasquinho salta das calças e ai é que ficaram mesmo doidas! Agarro numa e tunga! Assim à canzana!
- Há valente, foda-se! Era mais uma, Sô Mendes...
- E a cara da outra, meu? Havias de ver... Começou logo a passar-se assim que a amiga começou a grunhir! Pegou no vibrador e...
- E?... E o quê? Ia usa-lo em ti, não?... – disse João a rir.
- Ouve! Não quero essa merdas, ouviste? - Pedro estava mesmo zangado. Inclinou-se para a frente na
cadeira, de indicador em riste - Eu sou muito homem e no meu cu não entra nada! NADA! Ouviste? - Ao sentar-se de novo uma dor fê-lo contrair-se e lembrou-lhe algo de que se queria esquecer.
- Bem, mas depois de ter montado uma, atirei-me à outra e foi até cheirar a alho! E depois foi atrás, até as gajas rebentarem todas!
- Mas calma lá! Só estas a falar de duas! Não eram 3?
- Mas ai é que está, meu! É que as gajas telefonam a uma amiga! Dá para acreditar? As gajas tavam de rastos e tiveram de pedir ajuda, meu!
- Pá isso não faz sentido...
- E então chegou a outra...também boazona, meu! Aquilo era um aeroporto! Era só aviões, meu!
- ...Quer dizer... elas estavam cansadas, mas tu não...
- Exactamente! Eu ‘tava eléctrico, meu! ‘tava imparável com aquelas gajas ali todas para mim não havia quem me prendesse!
- Prendesse?... – Uma certa cicatriz num pulso veio à memória...
- E a terceira, tal como veio, morreu! Tunga! Ouve, nesse dia o vasquinho pintava paredes! Sempre em pé, ali como um herói!
- Foda-se! Ganda sorte a deste cabrão...
- E ainda levei as gajas para o "jacuze"
- Foda-se! Que merda é essa, pá?
- Tas a ver uma banheira d'hidromassagem? É isso mas redonda! Bem... As gajas na agua, assim com os jactos, tas a ver? Ficavam todas malucas. Nem sabiam o que fazer. Que elas eram assim todas queques e "não me toques". Mas aqui o meu vasquinho não lhes deu descanso!... É pra quem pode, meu! Sô Mendes! É a dolorosa...
Levantaram-se e saíram. Estava uma noite quente. Afastaram-se lentamente, em direcção à Praça do Chile. Pedro coxeava e ocasionalmente esfregava as costas. Notou o olhar trocista de João.
- Foi no futebol – justificou-se.
- Claro... O futebol dá um andar novo às pessoas. E como é? Amanhã vamos à praia?
___________________________
Notas: Cresci na Praça do Chile, em Lisboa e inspirei-me nos meus primeiros anos de saidas e "filmes
esquisitos" para escrever este artigo.A cervejaria ainda existe e era ponto de encontro depois do jantar.
Não sei se o Sô Mendes ainda lá está... Os personagens existiram mesmo e foi com eles que passei o fim
da adolescência. Um deles iria ser eu...
Um beijo ás 3 Fúrias (Miss Lust, Cicuta e LaOtra) pela oportunidade.



(Inicialmente publicado em Abril de 2005)

terça-feira, maio 30, 2006

A Guerra Do Fogo

A razão histórica e profunda da diferença entre nós e elas.

Há coisa de 20.000 anitos vivíamos em grutas. (Agora também, mas somos nós que as fazemos) em grupos familiares alargados assim como uma espécie de blogosfera, mas de carne e osso. Por falar em carne este era o alimento mais cobiçado ( É giro como há coisas que não mudam...) e como ainda não tínhamos inventado os talhos, era preciso ir caçar a dita carne.

Para isso lá íamos nós (GAJOS!) todos em grupo, sair de casa uma semana ou mais, a fazer de conta que era muito difícil apanhar um veado, mas aquilo era só para o pessoal curtir um bocado e falar dos últimos modelos de lanças e daquela gaja que é muita boa e da outra que é uma chata. Claro que o totó que falava da ideia dele da fazer uma roda levava logo um enxerto de porrada! Por isso é que ainda hoje nós gostamos de beber umas bejecas ao fim da tarde enquanto apreciamos as gazelas que passam. São coisas da natureza.

Elas lá ficavam na gruta e, para alem de tratar da criançada e apanhar frutos para alimentar a tribo, (que ás vezes quando o pessoal não estava para correr, tínhamos de voltar de mãos vazias e dizer que não havia caça e que o clima estava a mudar, etc, etc.) ficavam a falar umas com as a outras. Diziam mal de nós claro! Mas também umas as outras. É que ao fim de 3 ou 4 dias com os miúdos a chatearem e sem rapazinhos por perto para brincarem, o clima era pior que um Big Brother. Dai o sistemático corte na casaca, que ainda não tinha sido inventada.

Mas elas também tinham as suas compensações e não eram poucas. É que quem mandava eram elas! (Estão a ver como há coisas que não mudam...) À força de falarem tanto, inventaram a política e a religião e por isso quem punha e dispunha da gruta, quem decidia que os ossos de mamute ficavam melhor á direita e que umas hastes de alce á entrada é um must, eram elas.

Não admira que o pessoal tivesse de ir de férias (perdão: Ir caçar!) de vez em quanto só para puderem estar á vontade a fazer um concurso de arrotos, não tomar banho e decidir por si. Tão concentrados ficávamos nesta actividades mesmo macho, que não falávamos muito, o que também é útil para a casa. Por isso aprendemos a entender-nos sem grandes discursos.

Claro que havia sempre esse problema que era elas não nos ligarem se ficamos muito tempo fora e até nos trocarem por aquele tipo que é muito fraquinho para caçar, mas inventou umas cantigas para as levar á certa. Aos os homens diz que é para cantar os feitos de caça, não vá levar uma mocadas, mas o que ele quer é carne!

Ora um dia estava o pessoal farto de mudar os ossos de mamute de um lado para o outro, quando inventamos uma nova ocupação: A guerra!

Com esta coisa nova conseguimos que elas passassem a ter medo dos gajos das outras tribos e a dar-nos outra importância para alem de um misto de restaurante ao domicilio com serviços sexuais incluídos. Claro que dai até termos nós o controle absoluto da política, da religião e dos recursos foi um passo. Só foi necessário pintar o inimigos como muito maus e que nos vão atacar a todo o momento.

É que também naquele tempo o medo era uma arma muito poderosa.

Há coisas que não mudam, mesmo...

(Publicado originalmente a 11/04/2005)